Uma ANJ corporativa aos 30 anos

26 agosto, 2009

Veja esse post do VioMundo. ANJ -Associação Nacional dos Jornais, comemorou 30 anos citando e criticando a censura em 31 casos. Citou até a censura ao Estadão, mas não citou um caso de censura em que um associado fez contra um jornalista premiado nacional e internacionalmente. Pois é… e assim segue o Brasil. Esses dias a mídia está num beco sem saída.

Vejam:

Prezado Azenha

Antes de mais nada, obrigado pelo seu apoio à causa.

Vi um seu comentário onde cita meu caso. Queria lembrá-lo que a ANJ, em comemoração aos seus 30 anos, divulgou na semana passada 31 casos de censura à imprensa nos últimos 12 meses, 16 dos quais pelo judiciário. Mas não incluiu o meu caso de censura. Por quê? Talvez porque a censura tenha sido pedida por um associado da entidade, o grupo Liberal, de Belém. O espírito corporativo falou mais alto do que a missão?

Um abraço,

Lúcio Flávio Pinto / Jornal Pessoal


Nota do Viomundo:
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) completou 30 anos. Diz defender a liberdade de imprensa. Mas, como fica claro acima, só de “certa imprensa”. Ou seja, quando se trata de censura praticada pelo grupo Liberal, afiliado da TV Globo no Pará, não há “liberdade de imprensa” em jogo. Mas, quando se trata do Estadão, sim. Quando o governo golpista de Honduras expulsa a Telesur ou fecha a rádio Globo local, tudo bem. Mas quando Chávez fecha a RCTV, é um escândalo. Infelizmente alguns excelentes jornalistas, como o Lúcio Flávio, acabam pagando o preço dessa hipocrisia. Se há um aspecto positivo nisso, é que o episódio contribui para mostrar a jovens jornalistas como funcionam essas associações que dizem defender a liberdade de imprensa. São hipócritas. E usurpadoras de uma causa nobre. São entidades patronais que defendem a liberdade de empresa dos patrões. Só dos patrões.

Entenda a censura:

Idelber Avelar escreve no Biscoito Fino e a Massa:

Prepare-se, caro leitor, para outro mergulho no Brasil profundo. Lúcio Flávio Pinto (foto) talvez seja hoje o jornalista mais respeitado e destemido da Região Norte. Ele é o solitário redator do Jornal Pessoal, empreitada independente, que não aceita anúncios, tem tiragem quinzenal de 2 mil exemplares e mesmo assim provoca um fuzuê danado entre os poderosos, dada a coragem com que Lúcio investiga falcatruas e crimes. Lúcio já ganhou quatro prêmios Esso. Recebeu também dois prêmios da Federação Nacional dos Jornalistas em 1988, por suas matérias dedicadas ao assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles e à violenta manifestação de protesto dos garimpeiros de Serra Pelada. Em 1997, ele recebeu o Colombe d’Oro per la Pace, um dos mais importantes prêmios jornalísticos da Itália. Em 1987, foi o jornalista que investigou o rombo de 30 milhões de dólares no Banco da Amazônia, por uma quadrilha chefiada pelo presidente interino do banco e procurador jurídico do maior jornal local, O Liberal.

Há 17 anos, os representantes paraenses da corja comandada pela família Marinho perseguem-no de forma implacável. Ronaldo Maiorana, dono (junto com seu irmão, Romulo Maiorana Jr.) do Grupo Liberal, afiliado à Rede Globo de Televisão, emboscou Lúcio por trás, num restaurante, e espancou-o com a ajuda de dois capangas da Polícia Militar, contratados nas suas horas vagas e depois promovidos na corporação. O espancamento, crime de covardia inominável, só rendeu a Maiorana a condenação a doar algumas cestas básicas.

Alguns meses depois da agressão, Lúcio foi convidado pelo jornalista Maurizio Chierici a escrever um artigo para um livro a ser publicado na Itália. O texto, eminentemente jornalístico, relatava as origens do grupo Liberal. Em determinado momento, dentro de um contexto bem mais amplo, ele fez referência às atividades de Maiorana pai no contrabando, prática bem comum, aliás, na Região Norte na época. Como se pode depreender da leitura do artigo, nada ali tinha cunho calunioso, posto que – uma vez processado -, Lúcio anexou aos autos toda a documentação que provava a veracidade do que afirmava. A obrainvestigativa de Lúcio fala por si própria: veja a qualidade da prosa e da pesquisaque informa o trabalho de Lúcio e julgue você mesmo. O que ele oferece em seus textos, entre muitas outras coisas, é a documentação, história e raízes daquilo que é sabido até mesmo pelos mosquitos do mercado Ver-o-Peso: que n’O Liberal só se publica aquilo que é de interesse da corja dos Marinho.

Mas eis que chega do Pará a estranha notícia de que o juiz Raimundo das Chagas, titular da 4ª vara cível de Belém, condenou Lúcio a pagar a soma de 30 mil reais aos irmãos Maiorana – representantes paraenses, lembrem-se, da organização comandada pelos Marinho. Lúcio também foi condenado a pagar as custas processuais e os honorários advocatícios. A pérola de justificativa do juiz fala do “bom lucro” de um jornal artesanal, de tiragem de 2 mil exemplares porquinzena. Ainda por cima, o juiz proíbe Lúcio de usar “qualquer expressão agressiva, injuriosa, difamatória e caluniosa contra a memória do extinto pai dos requerentes e contra a pessoa destes”, o que constitui, segundo entendo, extrapolação característica de censura prévia contrária à Constituição Federal. O juiz fundamenta sua decisão dizendo que Lúcio havia “se envolvido em grave desentendimento” com eles. É a velha praga do eufemismo: um espancamento pelas costas se transforma em “desentendimento”. A reação de Lúcio à sentença pode ser lida nesse texto.

O Biscoito se solidariza com Lúcio, coloca o site à disposição para o que for necessário — inclusive para a publicação de qualquer material objeto de censura prévia – e suspira de cansaço ao fazer outro post que mais parece autoplágio, dada a tediosa repetição desses absurdos. Resta a pergunta: até quando os Frias, Marinho, Civita, Mesquita e seus comparsas vão manter esse poder criminoso Brasil afora?”